O ex-padre Wagner Augusto Portugal, braço-direito de Dom Orani Tempesta, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, admitiu que participava de esquema de corrupção na área da saúde do governo Sérgio Cabral e, com isso, se tornou delator premiado.
Ex-padre confessou
Portugal confessou participação no desvio de R$ 52 milhões dos cofres do Rio de Janeiro em contratos com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio com a organização social católica Pró-Saúde em 2013.
O MPF (Ministério Público Federal) do Rio investiga se parte dessa propina ficou com sacerdotes. As informações foram confirmadas pela Record TV.
Portugal era diretor de Relações Institucionais e de Filantropia da Pró-Saúde, frequentava o Palácio São Joaquim, residência oficial de Dom Orani, e o chamava de “você”, demonstrando, assim, intimidade, pois não usava o “eminência”.
Portugal, que é apontado como um dos beneficiários do esquema, foi afastado do sacerdócio pelo Vaticano por desobediência.
Segundo as investigações, o ex-padre entrou para os negócios com a saúde pública em Belém (PA), quando atuou como arcebispo, entre 2004 e 2009, e assumiu a gestão de seis hospitais públicos paraenses.
Na última terça-feira (26), o MPF divulgou o depoimento do ex-governador do Rio Sérgio Cabral em que ele cita um esquema de propina com a OS (organização social) da Igreja Católica, a Pró-Saúde. Até o momento, não existe indício do envolvimento direto de Dom Orani no esquema, como afirmou Cabral.
A investigação da força-tarefa da Lava Jato contra o esquema de Cabral levou 21 pessoas para a prisão. O ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes e os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita estão entre os presos.
Iskin tinha influência tanto sobre o orçamento e a liberação de recursos pela Secretaria de Saúde quanto sobre as contratações pela Pró-Saúde. Por isso, ele indicava empresas e fornecia a documentação necessária para a contratação.
Segundo Skin, 10% do valor dos contratos eram divididos em propinas. Agora, as investigações se concentram em quem foram os beneficiados.
Um dos trunfos da investigação foi a delação do ex-padre e da irmã dele, Wanessa Portugal, que morreu em janeiro passado. Eles detalharam o esquema de corrupção e de prestação de serviços para o desvio dos repasses do governo do Rio.
Portugal era influente nos bastidores da Igreja Católica e visto como o homem forte da Pró-Saúde. O ex-padre afirmou a amigos que “comprava sistematicamente roupas para Dom Orani, principalmente camisas, acrescentando que o arcebispo do Rio transpira muito. Numa única ocasião, Portugal disse ter adquirido 52 camisas em Roma.”
Portugal também teria presenteado o arcebispo com báculos — espécie de cajado — comprados em uma loja especializada em artigos religiosos de Roma, na Itália. Ele ainda teria comprado passagens aéreas e contratado voos fretados para viagens de Dom Orani pelo Brasil.
Os procuradores da República investigam a relação do ex-padre com a Igreja Católica e um suposto crime de peculato, pois entidades filantrópicas não podem ter lucros.
Em nota ao R7, a Pró-Saúde diz que “a nova diretoria tomou, espontaneamente, a iniciativa de colaboar com a apuração do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, no âmbito da Operação S.O.S, divulgada em agosto do último ano. A ação está em segredo de justiça e tem resultado em importantes desdobramentos na investigação de práticas irregulares na gestão da saúde pública no Brasil.”
Wagner Portugal está impedido de falar devido à colaboração premiada e, por isso, “indicou os advogados da Pró-Saúde para falarem por ele. Alegou que o processo canônico de seu afastamento citado ocorreu em período anterior ao vínculo institucional dele com a Pró-Saúde, razão pela qual não se manifestaria”.
FONTE R7